ACÚMULO

meu quarto nesta manhã...

acordei hoje de uma maneira totalmente incomum para minha experiência: perdi o sono! posso garantir que isso, pra mim, é curioso, estranho e tudo o mais, afinal, eu NUNCA perco o sono! e quando eu digo nunca é porque sinceramente não me lembro qual foi a última vez que tive esse fato a destruir meu sono.

vou tentar resumir em algumas palavras o que foi que contribuiu pra isso: há uns dias (especificamente no fim de semana passado) li algo na internet que me chamou a atenção: http://oglobo.globo.com/amanha/viver-com-menos-8451460, depois (ontem) visitei um ap que me chamou a atenção.

o que é que esses dois eventos têm em comum? o fato de diferirem (o que trata no artigo e o que presenciei no apartamento que visitei) da realidade do meu quarto, por exemplo. o apartamento era organizado, não se via excesso e eu me senti confortável alí, achei o ambiente aconchegante.

nessa manhã comecei a refletir as tantas coisas que acumulo sem me dar conta. então um pesadelo invadiu a minha mente: quantia de lixo que eu e minha casa geramos; quantia de livros que tenho, os quais muitas vezes nem saí das primeiras páginas; objetos que não utilizo como roupas, cachecóis, pente, cremes, bolsas...; alimentos que acabam estragando por tê-los comprado além do necessário e quando vou ao mercado sempre "preciso" de mais alguma coisa; textos da faculdade que estão muito mal organizados, os quais li uma vez apenas, e talvez muito mal lidos; o violão, que não me atrevo praticar sozinha; um rádio antigo que eu trouxe de casa e que até hoje não fui atrás de um transformador para que ele funcione.

bem, a lista é imensa e quando penso que ela vai se tornando maior e maior, me canso só de pensar.

tudo vem um pouco daquela velha frase "livre-se do que te faz mal". frase pouco batida, né? mas ao longo dos dias tenho mais certeza de que ela faz o maior sentido, já que nossas vidas consiste em acumular coisas desnecessárias, sentimentos ruins... consumimos e consumimos, sem ter fim... e esse é o ciclo da sociedade da qual fazemos parte. 

coloco meus miolos pra funcionar e vejo o quão tenho sido acomodada por criticar tanto a sociedade de consumidores em que vivemos e que não feito nada, ou quase nada pra me afastar dela, me diferir do modelo. aprendi que a melhor forma de contestar é consumindo o mínimo possível, mas quando foi que eu realmente deixei de alimentar o hábito de comprar e adquirir? 

por que comprar outro livro se eu tenho muitos que eu não li, que esperam ansiosamente para serem lidos? fora as dezenas que meus irmãos, pais e amigos já compraram...

vivo uma vida com pouquíssima reflexão, como seria diferente se comprássemos ou adquiríssemos somente o extremamente necessário... mas por que preciso tanto daquela roupa nova, daquele sapato, daquele laptop novinho, o celular que tem mil possibilidades de fazer e acontecer? porque, sim, é o sistema que nos convence, são os nossos círculos sociais, são os nossos desejos, somos nós mesmos que nos deixamos convencer e acreditar.

nossa, e as centenas e milhares de fotos que eu acumulei no pc, os arquivos que baixei e mantenho por capricho ou preguiça de organizar? são inúmeras coisas, incontáveis acúmulos! 

isso sem contar na quantidade de lixo que ingerimos boca adentro: açúcar demais, gordura demais, sal demais. tantos alimentos que não sabemos de onde vêm e o que contém. no meu caso posso afirmar que a grande maioria do que como e bebo sei onde comprei, mas desconheço o processo todo de produção, transporte etc etc. e aí achamos distante demais aquela família que vive com o que produz e blá blá blá. sim, está muito distante da vida que levo, porque simplesmente não consigo viver sem o supérfluo.

isso tudo foi um desabafo, um modo de lidar com a minha angústia, angústia essa que espero que perdure pra que eu possa, de fato, mesmo que aos poucos, me distanciar desse modelo que tanto busco me enquadrar.